O Tinder e o efeito cogumelo no amor

nota: os factos foram relatados por usuários desta aplicação e aumentados para maior impacto, do texto, claro.

São 9.30 da manhã de uma segunda-feira e Rita ouve o som que se tornou já familiar, nestes 2 dias de utilização desta app de encontros. Desde sábado - às 15.17 - refere ansiosa, que troca mensagens com alguém que lhe arrastou a fotografia para direita. No perfil constam uma fotografia da Torre de Belém, uma outra com uma frase de um filme, outra com “a Rita” ao longe e ainda outra com “a Rita” de óculos escuros. (Sim, que os óculos escuros são o novo vestido preto!) A principio tinha apenas as duas primeiras, mas quis ver se um toque mais pessoal mudava a onda de fracassos e decepções da vida real. (Portanto, sábado só tinha duas fotografias, que passaram a ser quatro no domingo)

(imagem https://www.elo7.com.br/placa-tinder-it-s-a-match/dp/6E10AA)

Do outro lado, a fotogenia e a eloquência em pessoa... O Jorge. Bem, a Rita não adorava o nome, mas, vá, talvez até nem fosse o nome verdadeiro... Ou viesse seguido de um Miguel. Ou Jorge fosse afinal um nome de família... de gerações e gerações... Só podia...

A Rita diz que quando criou a conta, da primeira vez, há uns meses atrás, primeiro se sentiu a ver revistas num cabeleireiro, ajudava a passar o tempo e que lhe fazia um bocado confusão que algumas pessoas se expusessem tanto e outras, como ela, se mantivessem escondidas... Como é que aquilo funcionava? Para a Rita, não funcionou e apagou a aplicação. Até sábado.

Como é que se na vida real, no tempo real, nada acontece, no Tinder as coisas iam ser diferentes? A verdade é que estavam a ser.

Conversa começou morna. Onde se mostraram fragilidades e relações passadas. Ou acabadas há horas, como era o caso do Jorge. Que se desdobrou em explicações, pouco cavalheirescas, de como ainda com a cama morna, se entregava já a um novo, mas tão diferente, tão bonito, tão genuíno amor.

Sim, amor, que o Tinder é o tempo do futuro. Do amor espontâneo (cogumelos!), sincero, sem medida. Sem espaço no tempo longo dos dias. O tempo em que quando está a começar já acabou.

Rita tentava manter a conversa serena, mas Jorge parecia nem ler o que ela escrevia. Parecia até que escrevia para si próprio (cogumelos!), que o que escrevia o alimentava sem precisar das respostas da Rita. Rita tentava contar o dia (...cogumelos!) e Jorge queria mais. Jorge queria tudo. Jorge queria viajar, planear tudo com a Rita para os próximos 20 anos (cogumelos!). E a Rita já não aguentava não ceder a tanto encanto. Àquele amor, se se pode dizer “ à primeira vista”.

O André estava mais ou menos como a Rita. Tinha começado a conversar há poucos dias com a maria. A Maria já tinha também feito as promessas de amor habituais... apostava sempre as fichas todas. Precisava de alimento, como um vampiro. De ouvir coisas, de dizer como nunca tinha sentido antes tanto entusiasmo por alguém, como era possível ali, já... (cogumelos!)....mas um dia depois a Maria já estava aborrecida com o André, farta da vidinha de banco e dos dias no banco e dos colegas do banco.... E entre swipes para a esquerda e para a direita eis que os olhos voltaram a brilhar. Manel. Fotógrafo. Com fotografias de Paris e Nova York... Moderno. Maria ainda deu uma volta com o André, enfim, estava assim como que alinhavada e o Manel ainda não tinha metido conversa... Manel, lá disse qualquer coisa. Com algumas faltas de acentos e sem h’s onde devia, mas “olha, pronto(s)", não se pode pedir a perfeição... A Maria estava de cabeça perdida (cogumelos!). A Maria gosta da sensação que o “apaixonar” lhe dá. Foi um amor galopante (outro). O Manel? Nem por isso! Está farto de gajas loucas que o sugam até ao tutano. Mas não perde uma oportunidade de.... conhecer!

Fiquei de me encontrar novamente com Rita e Maria uns dias depois.

Rita está entusiasmada, embora nestes poucos dias que passaram seja já a quarta vez que lhe prometem amor eterno e desaparecem sem deixar rasto. Disse-me que se esgotaram os nomes queridos pelos quais começa logo a tratar o amor. Já está farta da aplicação, mas lá continua, em busca de melhor sorte.

(imagem http://www.lojaestrutura.com/Placa-Moldura-Tinder-Dupla-It-s-a-Match/prod-1898382/)

Maria, saiu da app depois de deixar o Manel maluco. Não tem paciência para os desequilíbrios de meninos bonitos. Vive na esperança de recuar no tempo e poder voltar para o amor de sempre. Esgotado. Mas cheio de memórias, das quais metade não se lembra, a outra metade foi violenta e a outra a melhor coisa da vida. (sim, 3 metades, é assim a cabeça da Maria)

#Tinder #lisboa #encontros #vida #internet #velocidade #amor