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A licença para conduzir carrinhos de supermercado

  • Foto do escritor: teresa peixe
    teresa peixe
  • 24 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura





Guio bem. Agora de forma mais tranquila, embora continue refilona. A meditação tem-me ajudado a melhorar nesse aspecto, mas todos os outros, que devem andar a meditar enquanto conduzem, nem sempre colaboram comigo... Este post talvez venha a ser mal interpretado, mas vou correr o risco. Guio bem, dizia. Sempre tive tendência para conduzir depressa demais relativamente ao que a lei obriga. Especialmente, dentro da cidade... Agora estou mais serena, mais consciente dos riscos. Também sempre achei que assim como podemos ser multados por excesso também o devíamos ser por “deficiência” de velocidade. Acho mesmo que quem guia abaixo de determinada velocidade tem tendência a poder provocar mais acidentes que os em excesso... mas estou certamente enganada! Sempre quis ter cartazes dentro do carro que pudesse ir pondo fora da janela, tipo: “O pisca???!!!!”, “Vai para a faixa da direita!”, “o limite é 80, não 30!”, “Nabo!”, mas também, aquele que julgo que iria ressentir-se menos do que se passa fora da janela nas diferentes estações do ano, “Boa! Finalmente alguém que sabe guiar!!” Guio bem. Até carrinhos de supermercado. Mesmo aqueles que parecem ter vontade própria. Que são quase todos. Guio bem, mas 90% das pessoas com quem me cruzo, não! E juro que tento sempre pensar no porquê. Uns porque são mais velhinhos e perderam os reflexos, outros mais novinhos e ainda estão a habituar-se, outros que podem ser só distraídos - se é que podemos dar-nos a esse luxo quando estamos a guiar - outros que podem ter tido um dia triste ou mau ou óptimo e vão na deles... Todos vão “na deles” e é aí que o problema começa. Quando guio presto atenção ao que me rodeia, tento antecipar os movimentos dos outros, ainda que haja uns mais inesperados, ousados, surpreendentes.... tento prestar mais atenção aos outros. Vou “na deles”. E quando ir “na deles” começa a fervilhar em mim, na falta de civismo que demonstram, de como guiam como se fossem sozinhos na estrada, no mundo, na vida, penso no que serão nos seus dias. E daí salto para os supermercados. Não gosto de ir a supermercados. Só quando estão vazios. Cansa-me andar em peregrinação nos corredores, atrás de pessoas com olhar perdido nas prateleiras, à procura de nada. A fazer slalom por pessoas que parecem postes e carrinhos que bloqueiam todas as saídas, para não falar naqueles que parecem ter uma atracção especial pelos tornozelos de outras pessoas... Ou aqueles que, embora ainda sem explicação, encostam ao lado do meu nas filas da caixa... Como se isso tornasse mais rápida a sua chegada... A falta de civismo e cuidado tira-me do sério. Lembro-me como enchem a boca com a palavra liberdade, mas apenas quando se referem a direitos, que os deveres... esses são para os outros.





Os peões nas passadeiras, e até mesmo fora delas, também são um bom exemplo disso. Às vezes apetece-me parar o carro e perguntar se guiam. Se quando guiam se esquecem que também são peões e se quando são peões se esquecem que também guiam...


Um destes dias, numa conversa acerca deste assunto, uma amiga falou-me do Artigo 101.º — Atravessamento da faixa de rodagem.


E diz assim:


1 - Os peões não podem atravessar a faixa de rodagem sem previamente se certificarem de que, tendo em conta a distância que os separa dos veículos que nela transitam e a respetiva velocidade, o podem fazer sem perigo de acidente. (friamente, quem acaba por se magoar não são os condutores... os conscientes, ficam com a vida estragada e um peso na consciência, embora muitas das vezes - não todas - a culpa não seja deles)


2 - O atravessamento da faixa de rodagem deve fazer-se o mais rapidamente possível. (chama-se passadeira e não passeadeira)


3 - Os peões só podem atravessar a faixa de rodagem nas passagens especialmente sinalizadas para esse efeito ou, quando nenhuma exista a uma distância inferior a 50 m, perpendicularmente ao eixo da faixa de rodagem. (hum-hum!)


4 - Os peões não devem parar na faixa de rodagem ou utilizar os passeios e as bermas de modo a prejudicar ou perturbar o trânsito. (portanto, conversas junto a uma passadeira é tão bom como as que se passam no fim de uma escada rolante!)


5 - Quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com coima de (euro) 10 a (euro) 50. (Hum-hum!)


Sempre achei que ter carta de condução não estava associado ao QI - 1 volante, 3 pedais (ou até só 2!) e 1 manete de mudanças, não é pedir muito dos nossos milhares de neurónios ... Agora tenho a certeza que, se não está, devia estar. Ao QI e ao QE, que deviam ser avaliados mesmo antes daquilo a que gostaria de chamar rastreio. Testes que nos ajudassem a perceber como poderia determinada pessoa tirar a carta e em que moldes fazer uso dela. (E isto tudo se aplica a peões!)


Começariam, obviamente, num supermercado. Com percursos simples e definidos com obstáculos e algumas tarefas de reacção. Quem não passasse nos básicos, pouparia o dinheiro que ia gastar na carta de condução. Poderia, vá, gastar em géneros, mas só com cestinho... Para poder usar os carrinhos teria que ir repetindo o “rastreio”. Os que passassem iriam então para a carta de condução que também teria que ir sendo aperfeiçoada nalguns. Ou seja, teríamos que ganhar os pontos que agora nos querem tirar!


A partir daqui não tenho isto muito bem estruturado, principalmente porque não vale a pena perder tempo a pensar nestas coisas...porque... enfim, sabem porquê, certo?


Bem, mas desse rastreio seriam classificados os conhecidos como domingueiros, por exemplo. A questão depois é como se poriam os domingueiros a conduzir durante a semana...Mas tenho a certeza que não teríamos transito em lisboa. Certamente também não teríamos escolas de condução porque os instrutores teriam chumbado , mas o melhor seria que quando chegasse ao supermercado haveria sempre carrinhos!








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