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Com unhas e dentes

  • Foto do escritor: teresa peixe
    teresa peixe
  • 21 de ago. de 2017
  • 2 min de leitura

Em 2006, andando pelo Alentejo, decidi ir tomar um café a Évora. Chegando à porta do café, vejo um rafeiro, dourado, bem apessoado (como todos!), que ao aproximar-me, se sentou e me pediu umas festas. Estávamos nós nisto e sai uma senhora do café a dizer “Ó menina, fique com ele. Anda há dias por aqui… nós vamos olhando, mas…”… Com o coração apertado, respondi que não podia. Já tinha um, não era possível levar outro e rapidamente me afastei… não pela senhora, mas pelos nossos corações. Meu e do cão, que lá ficou.


No dia seguinte, já não me lembro porquê, tive que voltar a Évora, mas já não passei pelo café, não era capaz… Fugir é sempre uma boa solução. Ou não!


Quando estava a chegar ao carro para voltar para casa, vejo um cão perto de uns caixotes do lixo… O cão! O douradinho! Não sei quanto tempo passou, talvez o de 3 passos. Chamei-o. Ele veio. E desde esse dia, talvez até do anterior, que somos muito mais felizes, como puderam aqui constatar!


Sendo o Lost um ex-“streetdog” e Dia 19 de Agosto ter sido dia internacional do animais sem tecto (é curioso que escolham a data a meio da altura do ano em que mais se ouve falar de abandono), decidi contar-vos que “se me fez luz”. É pena que tenha demorado tanto tempo a perceber… a deixar de fugir. Mas como diz o “povo”(e o “povo" sabe que se farta!), “mais vale tarde que nunca!”




Durante muito tempo, eu e a minha cabeça conversámos sobre este assunto dos bichos. Queria fazer qualquer coisa. Idealmente trabalhar com animais, mas isso, dada a minha falta de formação na área, seria difícil. Ser voluntária num abrigo estava fora de questão. Não me sentia com estrutura para isso. Basta-me ver as partilhas que fazem nas redes sociais, de maus tratos para o perceber… Sempre que pude, ajudei instituições como União Zoófila e Refugio Animais Angels (falo destes porque sim!), mas não me chega. Chega, mas não chega.


Estava eu numa dessas conversas, recorrentes, com a minha cabeça, a tentar fazer-lhe perceber que ser voluntária não era uma coisa que fosse aguentar, porque não me apetece ver situações em que nada posso fazer para acrescentar o que quer que seja à vida daqueles animais, em que viria para casa triste e eles ficavam lá, quando a cabeça me diz: “Se parares de pensar em ti, talvez chegues a outra conclusão”.


Confesso que fiquei ofendida e por alguns dias quase não falei com ela. Egoísta? Eu? Só podia estar a brincar.


Eu não falei com ela, mas ela falou comigo! E fez-me ver que o importante era o que eu fizesse no tempo em que estava com eles. Em que limpasse, passeasse, mimasse, tratasse, aprendesse, ensinasse… e que, se voltasse a casa triste nuns dias, seria certamente de forma bem mais tranquila do que a que sinto no não fazer.





Portanto, mal possa, que será em breve, irei falar com quem for preciso para me tornar voluntária num abrigo animal. Vamos ver como corre.


E agora diria, com a minha voz radiofónica: "voltaremos a este assunto sempre que se justifique, fiquem connosco"

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