Acreditar em metade do que se vê e em nada do que se ouve
- teresa peixe
- 16 de out. de 2017
- 4 min de leitura
Não voto há uns anos. E por muito que à minha volta me digam “depois não te queixes”… não me queixo. Votei durante anos e deixei de acreditar nas pessoas. Felizmente, não na humanidade, mas numa grande parte das pessoas.
Tanto me faz quem está no poleiro. Tanto me faz se situa mais à esquerda ou à direita, classificação que nem julgo fazer sentido em Portugal.
Desde miúda que acho que o Homem não é genuinamente bom e cada vez mais, na eventualidade de nascer bom, se tornará mau. Ou pior, indiferente. Como hoje publiquei no facebook: “quando a Lei é branda, o Homem é mau”.
Nestes últimos tempos tenho visto atrocidades, que não me surpreendem já, mas não deixam, por isso, de ser atrocidades.
Que raio de pessoas temos neste mundo? Que raio de pessoas temos em Portugal?
Vejo as barbaridades dos nossos jornalistas, que nos deviam fazer uma ligação ao mundo de forma verdadeira, mas que, como tudo e todos, se tornaram também em guerreiros de audiências. Interessa é ter noticia e especulação e explorar a desgraça. Interessa é mostrar mortos e fazer perguntas até às lágrimas.
Serão as pessoas tão infelizes que precisem das desgraças alheias como forma de alívio?
Verdade é que também ouvi, de um grande nome da “comunicação”, com uma bela posição numa empresa de canais e jornais, que a televisão é um negócio e que se tem de dar às pessoas o que elas querem ver, sem a preocupação de as ensinar a gostar de outras coisas ou ajudar a que se tornem melhores seres humanos. Se querem reality shows e cadáveres a sair do frigorífico, é isso que as televisões dão! E aqui podia fazer um parêntesis para falar sobretudo dos canais do estado… infelizmente, deixam-se levar pela mesma guerra no que diz respeito a noticias, onde deveriam tentar fazer a diferença.
Eu entendo que seja um negócio e que a internet e smart phones e todos nós podermos ser “jornalistas” a qualquer momento, levem os media a recorrer a tudo para serem vistos e não ultrapassados. Percebo. O que não percebo são as faltas de respeito, faltas deontológicas, a regra do vale tudo, incluindo a falta de verdade e o proteccionismo. A falta de imparcialidade.

O ser humano é emocional, reage a esse tipo de noticias. Curiosamente nas redes sociais partilham-se mais as boas noticias do que as más. Portanto, gostamos todos de ver cadáveres, mas depois partilhamos as boas acções humanas. Nas quais raramente participamos, mas gostamos de nos mostrar assim. Como alguém diz “vícios privados, virtudes públicas”.
(vou deixar de fora as partilhas dos maus tratos a animais, sobre as quais também tenho uma opinião não muito positiva)
Às vezes não sei o que pensar nem como agir. O que pensar de determinadas acções. Por medo de estar a ser injusta... Todos partilham várias notícias sobre a tragédia dos incêndios... uma tragédia que podia ter sido minimizada, mas não foi. Como não serão as próximas... mas de tanta coisa que vejo publicada, partilhada, sentida, cobrada, quantos fazem o quer que seja para ajudar de facto? (E sei que sim, que uns ajudam...) Mas quantos dos que podem, porque existe quem só possa partilhar, se mexem para isso? Ajudar dá trabalho. Quantos do que apregoam que se tem que ajudar estariam disponíveis para ir para as localidades ajudar a reconstruir as coisas?
E nada do que nos chega parece ser verdade. As ajudas que afinal não existem. As autoridades que não fazem. Ou será exactamente o contrário?!
"Acredite só em metade do que vê e em nada do que ouve” - Dinah Mulock
Durante o incêndio de Pedrogão cheguei a partilhar uma notícia do salvador Sobral (com quem simpatizo apesar das tonteiras que diz - que são apenas ditas nos sítios errados…) em que iria doar uma parte do valor da venda do seu disco, o que, infelizmente, me deixa a pensar que se trata também de uma campanha de marketing... (mais ou menos como quando doamos para o banco alimentar, na compras que fazemos no pingo doce, e nos é cobrado na mesma o IVA), assim como na FNAC perguntarem “quer ajudar as vitimas de Pedrogão?”… Estamos a ajudar a FNAC a ajudar? Somos todos parvos? Ou se calhar sou eu que tenho uma visão pessimista… não sei.
Numa altura em que as notícias já deviam ter passado a ser sobre inundações, por termos as sarjetas entupidas e as estradas mal construídas, voltam os incêndios.
Somos todos um bocadinho culpados. Temos todos responsabilidades na prevenção. e não é só nos incêndios. Podia falar do sarampo. Ou do lixo acumulado.
Andamos há anos a enterrar a cabeça na areia. A achar que alguém resolverá. E a apontar o dedo, que é muito mais fácil! Nem tudo é responsabilidade do estado, do governo.
A liberdade não é um evento isolado, traz responsabilidade, traz deveres.
Procurem-se culpados. Apontem-se responsáveis. Façam-se leis menos brandas. Arranjem-se formas das mesmas serem cumpridas. Crie-se uma justiça válida e credível. E sobretudo que se aplique a todos da mesma forma.
Senão a História nunca deixará de ser “as mentiras contadas pelos vencedores”.
Com tudo isto espero que não me achem uma pessoa amargurada, porque não sou. E se escrevo isto é por achar que podemos ser melhores. Talvez apostando nas gerações futuras, não alimentando a competição a partir dos 3 anos, mas ensinando-lhes as regras básicas de civismo... Se ainda se lembrarem.
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